- O que vocês estão olhando? - Victor e Malu chegaram em casa e encontraram a Lavínia, o Raul, a Ray e o Théo, tomando café de pé na frente da janela olhando para o quintal.
Chegamos em casa e Raul estava nos esperando com uma mulher no escritório. Ela era decoradora e nós quatro ficamos discutindo sobre as coisas que queria mudar no meu quarto e sobre os meus planos para o futuro.
Adivinha como me senti depois de passar o dia no hospital com a Lavínia e o Raul? Depois de falar com um médico e passar por vários exames que não faço idéia do que são ou para o que servem.
Théo segurou a minha mão e sorriu para mim. - Só para deixar claro, é que eu nunca andei de salto alto. - Lizzie, eu sei. Percebi quando você desceu a escada quase arrancando o corrimão. Sorri sem graça.
Tomei um banho no banheiro da Lavínia e vesti uma roupa que ela me emprestou. Ela me maquiou e nós conversamos sobre o tempo que passei na ilha, os lugares que o Inácio me levou, as receitas que a Eloísa me ensinou e as visitas do Victor. Dos presentes que ele levava, livros, coisas que eu nunca tinha visto antes e as conversas que tivemos.
Malu abriu a porta. O sorriso dela se desfez quando ela me viu. - Mãe! - Ela gritou da porta. - O que foi? - Lavínia veio andando até a porta. Eu sorri para ela.
O Victor dormia no banco de trás do carro. Estacionados na frente da casa da Lavínia, Théo olhava para mim e eu respirava fundo tentando juntar coragem para entrar na casa.
Victor entrou na loja do posto e me encontrou de joelhos chorando segurando uma lata de ervilha. - Você está bem? - Não consigo parar de chorar. - E sabe o motivo? - Não.
Não acredito que o Victor me deixou sair. Ele foi o único que vinha me visitar toda semana. Eu entendo que seja difícil para a Lavínia que de uma hora para a outra a filha comece a tratá-la como uma estranha. E a tal da Malu que sempre vem discutir comigo. Como se eu tivesse culpa de perder a minha memória.
Estávamos sentados lá ainda, atrás do balcão da loja do posto de gasolina. Cansados, amedrontados, encharcados por causa da chuva e com muito frio. O primeiro tremor daquele dia foi pequeno e rápido. O motorista estava tentando se comunicar com a defesa civil para saber se já era seguro sair do posto. Se a estrada estivesse obstruída talvez fosse mais seguro voltar.
Meu nome é Eliza, mas todo mundo me chama de Lizzie. Eu cresci em uma cidade pequena no interior. Cresci sendo vizinha da minha prima Malu, passando as tardes na nossa rua brincando com nossos amigos. Eu e a Malu, a Raíssa, o Théo e o irmão dele, João.